Já não vou a tempo para te dizer.
Ou até só para falar, como tantas vezes, apenas com o olhar.
Aprendi contigo a falar com os olhos.
Aprendi contigo que a honestidade é a maior das virtudes. A ser honesto comigo e que esse é o ponto de partida para o resto da vida.
Ensinaste-me a fazer tudo como se alguém me contemplasse, com valor e firmeza. A ser humilde mas valente.
Disseste-me naquele teu sussurrar de dedo apontado, que sempre tinhas sido namorado e que Eu também o podia ser toda a vida. Vi o que era amar.
Falavas com paixão de quem realmente gostavas, com esses grandes olhos a tremer e brilhantes, quase a verterem uma lágrima.
Aprendi contigo o peso das palavras.
Contavas-me histórias de um miúdo pequeno e descalço, num barco mundo fora e das caçadas por terras, e Eu, encolhia os ombros. E pacientemente recordavas-me o quanto Eu era novo.
No Verão, esperavamos ansiosos pela hora combinada e sem faltar, lá vinhas no teu passo apressado a sacudir as moedas dos bolsos, já prontas para os nossos gelados.
E no Inverno, os dias da Bola.
O pão quente para o lanche.
Lavar o carro ao Domingo.
Tanta coisa que vou sempre recordar.
Sei que te orgulhavas de mim. É um privilégio viver com isso.
Obrigado.
“Dá, se puderes; se não puderes, sê afável.” ... assim era Tu.
Custou-me ver que, afinal, não tinhas grandes olhos.
Ao meu Avô.
1916-2006
1 Comentários:
A lembrança de quem parte nem sempre tem que ser triste.
Pode deixar uma lágrima no olho de felicidade. Ser sincera. Ser bela. Emocionalmente magnífica.
Como esta.
Abraço.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial