12/04/05

Legenda

Dar ao inimigo mais informação do que aquela que ele pode suportar é um pau de dois gumes. Mas, se o outro lado não está preparado, quase de certeza que vai usar o que sabe, ou pensa que sabe, contra ele mesmo. Disparará ciente de que as suas convicções são certas, e no fim acaba traído por elas. Pensando que a oportunidade é sua, ataca cegamente, confiante na vitória e nos métodos, mas agindo apenas pelo único meio por que poderia agir, o meio da informação que lhe foi dada, meio esse já esperado e antecipado. Uma maneira subtil de fazer com que joguem pelas nossas regras.

Sun Tzu, antigo líder militar chinês e autor d'A arte da Guerra já considerava, na altura, a informação como a arma mais perigosa e poderosa. Conhece o teu inimigo como te conheces a ti mesmo é uma lição de valor inestimável. A vida não é sempre uma guerra, mas este conselho é tremendamente útil quando se lida com pessoas. E a melhor maneira de conhecer alguém, é dar-lhe liberdade total, dizer-lhe o que quer ouvir e observar como se move. Estudando as suas atitudes, ganha-se a previsibilidade e o domínio.

Para um interessado, como eu, nas filosofias orientais, talvez tenha tardado a por em prática alguns conselhos que agora vejo como fulcrais e que já conhecia há muito. Não só seguindo as directrizes de Sun Tzu, mas também bebendo de inspirações Zen e budistas, vejo as coisas com outros olhos. O Zen proclama a acção da não-acção, a passividade ante o desenrolar dos acontecimentos. Uma mente em estado Zen é um patamar dificílimo de atingir, impossível para a maioria do comum mortal, mas há algumas linhas que se podem seguir. De facto, ser transparente para com os outros é, segundo o Zen, algo a evitar. Com a mente vazia, devemos ser tão cristalinos para quem nos observa como uma parede de granito, e agir intuitivamente através da observação desprendida. Isto leva, sem dúvida, a que as pessoas nunca saibam bem o que esperar de alguém que se rege por esta linha de pensamento. É-se tão natural, como imprevisível, mas seguindo uma lógica interna coerente.

Indo buscar ao Budismo meios para encarar e moldar as contrariedades da vida, encontra-se força para vencer até o maior obstáculo e a decisão mais difícil. Não é tão simples como parece, mas uma vez aceitando a impermanência de todas as coisas e a inevitabilidade do sofrimento, sendo o mesmo parte integrante e essencial do nosso desenvolvimento como pessoas, tudo parece bem mais pequeno, e encontramos reservas em nós mesmos, a fonte mais fiável, em vez de a procurarmos cegamente nos outros. É certo que devemos encarar o próximo como companheiro de viagem e prestar-lhe o respeito que merece, mas no fundo, somos nós os criadores do nosso próprio Caminho, e só nós podemos decidir como o percorrer. Se o tivermos de percorrer sozinhos, então fá-lo-emos, cientes que assim somos mais fortes, mais capazes. Fazê-lo segundo as regras de outrem é macular a nossa vontade, é deixarmo-nos manipular pelo desejo de alguém que nos queira fazer desviar da busca de nós mesmos.

O jogo é o mesmo de sempre. As regras, essas, mudaram.