13/02/05

Felicidade

Hoje Escrevo-Te este texto baseado na entrevista a Enrique Rojas (psiquiatra e catedrático de psiquiatria espanhol) intitulada “Felicidade sem Utopia” à revista Xis de dia 12 de Fevereiro de 2005.

És mais racional que emotivo e isso tira-te algum sofrimento ou, pelo menos, parece tirar. Diz Enrique Rojas que “devemos fugir de coisas idílicas, inalcançáveis, porque produzem muita frustração.”. É também esse o teu olhar para a vida, segundo o qual tudo, ou quase, se racionaliza. Diria que és praticamente invencível, embora já te tenha visto quase de rastos, pois na maioria das situações difíceis defendes-te com a garra de quem precisa de vencer para ser feliz. Rojas cita um poeta do séc VI a.c. “aquele que conhece o exterior é erudito, aquele que se conhece a si mesmo é sábio, aquele que conquista os outros é poderoso, aquele que se conquista a si mesmo é invencível”. E tu, meu querido, é-lo... As tuas metas são sempre muito bem delineadas, não te impinges projectos que possam cair com o sopro do vento, conseguindo a maior parte das vezes atingir essas metas que mereces pelo teu constante esforço e dedicação. Deixas o passado para trás, concentras-te nos teus objectivos bem definidos e mostras uma visão positiva de tudo mesmo quando estás a sofrer. Mas, quem realmente te conhece, consegue ver através do teu coração e esse sofrimento passa cá para fora numa espécie de brisa que não notas sair de ti, mas que é muito mais fria quando estás triste... E ficas mais distante nessas alturas. Admiro também a tua maturidade que em muito te ajuda nesse teu caminho racional para a procura da Felicidade – que não é mais do que o resultado de uma boa relação entre o que queremos e o que conseguimos. A cada passo que dás queres sempre mais do que desejas, pois os teus projectos visam muito mais o alcance de metas seguras do que de prazeres imediatos. Só que, quando não as atinges, tens que ter a capacidade de perdoar os teus erros, e as tuas falhas, porque somos humanos e todos erramos. Só a máquina não erra.

Também no campo do amor mostras a tua racionalidade, avaliando sempre as atitudes com aquilo que pensas, mais do que com aquilo que sentes. E quando os problemas chegam parecem destruir tudo sem deixar vestígios da paixão. O psiquiatra cita, mais uma vez um poeta, agora Ibn Haz (séc XII): “coração que não queira sofrer dores, passe a vida livre de amores”. No domínio do coração e das relações afectivas o sofrimento, feliz ou infelizmente, é inerente a qualquer tipo de amor. A capacidade de perdão a nós próprios e aos outros pode diminui-lo, se estivermos dispostos a dar tudo de nós, por amor. Enrique Rojas refere que “não há felicidade sem amor, e não há amor sem sacrifício, sem renúncia” e defende na sua teoria sobre a Felicidade que “ser capaz de superar o passado é um bom sintoma de saúde mental”. Além de ser absolutamente necessária esta visão da mágoa e do sofrimento, é também necessário que as pessoas mudem para que possamos ter uma ajuda no caminho que nos leva a perdoar. Começa por ser imprescindível admitirmos que as pessoas têm capacidade de mudança, de transformação. Rojas diz que apenas necessitam de ter consciência que têm de mudar e uma grande vontade: “com uma vontade forte, as pessoas são como anões em cima de ombros gigantes”. Não se pode desistir perante dificuldades, sendo este um dos grandes truques para que a mudança seja uma realidade. Mas digo, mais uma vez, que é absolutamente necessário acreditar na capacidade de mudança dos outros.

Será então a Felicidade a terra prometida. O psiquiatra reconhece três Felicidades: retrospectiva (sabermos que fomos felizes no passado), perspectiva (termos a noção que aqui e agora somos felizes) e a prospectiva (ter uma visão optimista do futuro). Devemos dar muita importância à felicidade retrospectiva, pois, como já referi, a harmonia com o passado é a chave da felicidade presente e futura.

Rojas reconhece o homem como um animal sempre descontente, pois busca mais e mais Felicidade. É nessa busca que não devemos parar e que nos devemos empenhar.

Procura a tua Felicidade sem medo de por todas as tuas hipóteses, mesmo que isso implique perdoar, esquecer, confiar numa mudança, ou até não fazer nada disto e assistir de longe à perda daquilo que sempre tiveste. Tu moldas a tua Felicidade e tens o direito de o fazer à tua maneira, mas usa também a tua racionalidade aliada a alguma emotividade para clarificares se o que sentes não poderá ser uma arma muito forte para lutar contra a mágoa.

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