A vida embrutece-nos
Quem passar em frente ao jardim de São Lázaro, no Porto, pode observar uma frase em espanhol que diz "la vida es un largo embrutecimiento". E não é que para a maioria as pessoas é mesmo? Senão vejamos... à medida que "crescemos" e "amadurecemos" vamos vendo as coisas de maneira diferente. Em poucos anos, invariavelmente começamos a dar valor às coisas mais absurdas. Ao carrinho novo em folha, ao telemóvel de topo de gama, à roupa de marca que mais ninguém tem. Com o passar do tempo vamos tornando-nos mais e mais fechados em nós mesmos e na nossa vontade, cansados que ficamos de ouvir e fazer o que os outros gostariam que fizéssemos. Perdemos a pouco e pouco, o nosso altruísmo, a nossa vontade de ver o próximo sorrir, pensando que tal se resume a uma noite de copos no fim-de-semana. Mal damos por ela, e já temos o egoísmo instalado na sua plenitude e perdemos a visão inocente e voluntária do Mundo que tínhamos quando éramos jovens. Quando viver significava sonhar sempre com algo mais e melhor, quando a felicidade do próximo era o que de mais importante tínhamos, nem que na altura não o soubéssemos julgar assim. Em suma, a vida embrutece-nos mesmo. Bem daqueles que passam por ela sem nunca perder o brilho nos olhos, sem nunca ceder ao conformismo egoísta do "eu é que sei o que é bom para mim" ou ao materialismo inerente a tudo o que nos rodeia. Crescer não é endurecer com as tentativas falhadas, com os sonhos frustrados. É saber que, não importe o que o tempo nos traga, temos sempre dentro de nós forças para sonhar.
4 Comentários:
O embrutecimento denota-se naquilo que se é e não naquilo que se parece. Porque “nem tudo o que parece, é”, devemos dar o benefício da dúvida a um mundo inteiro que nos rodeia e que é habitado por uma ínfima parte de todo o género de pessoas que poderiam existir. O estatuto social, a fama, as possibilidades económicas, a roupa, a extravagância, a pobreza, nada disto nos pode, lá no fundo, ajudar a caracterizar o interior de ninguém.
Aquilo que é bom para nós, nem todos sabemos, acredito que alguns saibam... Mas aquilo que queremos, isso sim, conduz a nossa vida. Porque ela tem de ser conduzida por nós, e isso não é conformismo. É apenas ser sincero para connosco mesmos e para com os outros. Que seria de nós sem vontade própria? Acho que nos resta demonstrá-la e decerto que pessoas compreensivas serão capazes de nos entender, já que a nada obrigamos ninguém..
“O sonho comanda a vida”, não é? Pois é, aqui tenho de concordar contigo, meu caro. O sonho já comandou a minha... Já sorri no fundo do poço, sonhando com alguém em concreto a içar-me; já esperei que algo em mim me ajudasse a dar uns passos atrás quando me deparei a uns centímetros do abismo; já fiz na minha cabeça contos de fadas com finais felizes em alturas em que a única vontade era chorar. Depois de tudo isto, acho que embruteci. O sonho já não me guia da mesma forma e aprendi que neste mundo a atitude defensiva nos ajuda a caír menos vezes. Fui, talvez um dia, a mulher dos sonhos pelos sonhos, dos contínuos voos arriscados sem querer adivinhar o momento seguinte. Sou, agora, uma pessoa mais prudente. Acho que deixei de arriscar a minha mágoa e a dos outros. Se embruteci? Ao nível da minha atitude perante a vida considero que sim, mas decerto me sinto melhor. São opções que a vida nos dá, e que tomamos de acordo com as nossas vivências. A outra saída era, para mim, impossível.
O_o ena pá, grande testamento! Nao pensava que ja tivesses embrutecido, estava a pensar em algo do genero a partir do género 30 anos em diante... aí é que vemos o quanto os "adultos" começam a perder o riso... vê lá, não embruteças demasiado cedo!
Eu quero aqui deixar claro que eu não levei o texto do meu amigo ZeoX a peito! Só quis comentá-lo com os meus sentimentos... E se a vida é um embrutecimento, ele poderá começar cedo... Ah e o carro, o telemóvel e a roupa de marca não surgem só aos 30! Lol! Juro que ao ler este texto, fico com a ideia que ele fala de uma geração actual e bastante nova, entre os 20 e os 30... da qual ele, eu e muitos de nós fazemos parte! Se calhar a minha interpretação foi incorrecta!
Mas, apesar de tudo, e como as palavras têm uma significação, que depende da interpretação de cada um, chamem ao meu embrutecimento falta de magia ou o raio que o parta. Qualquer coisa... Desde que tenham percebido, fora o título que lhe dêem, aquilo que sinto.
Ainda não tens 20, por isso xiu.
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