A queda de um Anjo
A pessoa amada é, no fundo, um espelho da nossa idealização interior. Reflectimos nela as esperanças, os sonhos, os desejos, e se essas nos são retribuídas, deixamo-nos ir, agarrados à ideia de que aquilo que queremos para nós, é aquilo que essa pessoa nos irá dar, sempre. No fundo, parece que por vezes não gostamos de uma pessoa verdadeiramente pelo que ela é, mas pelo que ela nos dá de si mesma e, sobretudo, por aquilo que de nós se eleva na sua companhia. Construímos em pouco ou muito tempo um quadro a tintas de todas as cores por cima da real face de quem gostamos e passamos a idealizar esse retrato opaco e imutável, esperando que as cores nunca se esbatam, que a tela nunca quebre. Mas todos sabemos que a vida muda as pessoas, tal como leva a vida de uma pintura. Quando nos apercebemos de que aquilo que realmente gostamos em alguém não é o que essa pessoa tem realmente no seu âmago, mas apenas aquilo que depositámos nela para simplesmente nos sentirmos melhor na sua companhia, derrubamos a imagem do anjo que havíamos construído, deixando-nos com a carne crua e suja do ser humano. E isso, quase sempre, não é o suficiente. Talvez seja por este facto de auto-percepção que tentamos erroneamente fugir do sofrimento, dando-nos ao facilitismo da fuga em imagens de segurança que outros nos transmitem, ou que estranhamente conseguimos cortar com vontades que de repente já não nos parecem tão vitais. Talvez, no fundo, o ser humano seja intimamente egoísta...
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