11/08/05

Não é assim?

Não te amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n 'alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.



Almeida Garrett

3 Comentários:

Blogger Raio de Sol disse...

este poema é simplesmente divinal... boa escolha...

2:41 da tarde  
Blogger ♥Rita♥ disse...

E encaixa perfeitamente tantas e tantas vezes...

10:51 da tarde  
Blogger Bruno disse...

poema muito bonito.

Esse Garret sabia mesmo como dizer as coisas.

4:06 da tarde  

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