Carta extraviada
Esta é a estória de uma carta de amor/perdão/arrependimento extraviada que me veio parar às mãos. Os nomes são fictícios para proteger a identidade dos intervenientes...
"Maria,
Hoje olhei para dentro de mim e senti um vazio enorme. Há uns tempos atrás pensava que era deixando-te que ia corrigir este vazio... hoje, passado todo este tempo, vejo que a distância só serviu para alargar mais e mais o buraco que deixaste bem no fundo da minha alma. Acho que só consigo mesmo afastar-te de mim quando te odeio e infelizmente, quem sabe, não te consegui odiar pelo que fizeste, por muito que tenha tentado. E porque não te odeio, nem me és indiferente, porque nunca o foste, preciso de desabafar com este pedaço de papel, esperando que ele um dia chegue a teus olhos. Outrora perguntei-me onde falhámos... porque é que cada vez que os nossos lábios se tocavam, todo o Mundo parecia dissolver-se num mar de paixão e, logo a seguir, esse mar se transformou num longo manto de gelo, sufocando toda a chama interior? Porque deixámos tudo para trás para seguir um sonho a dois e, mal demos o primeiro passo, largámos as mãos e seguimos caminhos separados? Talvez tenha sido o nosso próprio orgulho a cegar-nos... nunca nos sentámos e falámos do que realmente queríamos. Julgávamos não ser preciso, era tudo tão evidente... Mas se queríamos o mesmo essencial, os detalhes, esses, não se complementavam. Nunca consegui compreender os teus porquês, as tuas razões, por nunca ter sido capaz de racionalizar o coração e fechá-lo quando bem me apetecia como tu eras. Às vezes dava-me muito jeito... Mas não consegui. Porque era demasiado forte o que sentia por ti... e quando descobri que a tua alma não era um esepelho da minha como acreditei, senti-me despedaçado. Lentamente deixei-me morrer... até que parti. Lamento imenso que nunca tenhas ouvido as minhas súplicas, que nunca tenha sido capaz de te fazer sonhar como me fazias sonhar a mim. Ou então, lamento que nunca tenhas tido a força de te agarrar ao que realmente importava e esquecer as mesquinhices da mente humana... Seja qual fosse a razão, nunca a soube, e tão pouco importa agora.
Tudo o que sei é que me fazes falta. Acredito que me terias neste instante e em qualquer outro, bastava quereres. Bastava estares aqui. Como dantes, sinto a necessidade da redescoberta, do perdão, de recuperar o que foi meu e de dar o que ainda podes reclamar como teu... mas sobretudo, sinto ainda a necessidade de compreender, de simplesmente olhar de novo nos teus doces olhos cor de avelã, nem que seja para ouvir que nada teve significado e que nunca mais olharás para mim do mesmo modo. A estocada final, se o desejares. Mas tenho ainda o secreto desejo que só a ti manifesto de poder voltar à doce memória e vivê-la. Uma e outra vez... num repetir sem fim, como sonhávamos nos nossos tempos de felicidade conturbada. Já percorri muitas ruas desde que te deixei, imagino que também o tenhas feito... Mas nunca encontrei nada como o teu regaço, nem me perdi tão fundo como no oceano do teu sentimento, nem creio que alguma vez o vá achar...
Espero que esta carta te encontre bem...
Um beijo, do eternamente teu...
Miguel."
"Maria,
Hoje olhei para dentro de mim e senti um vazio enorme. Há uns tempos atrás pensava que era deixando-te que ia corrigir este vazio... hoje, passado todo este tempo, vejo que a distância só serviu para alargar mais e mais o buraco que deixaste bem no fundo da minha alma. Acho que só consigo mesmo afastar-te de mim quando te odeio e infelizmente, quem sabe, não te consegui odiar pelo que fizeste, por muito que tenha tentado. E porque não te odeio, nem me és indiferente, porque nunca o foste, preciso de desabafar com este pedaço de papel, esperando que ele um dia chegue a teus olhos. Outrora perguntei-me onde falhámos... porque é que cada vez que os nossos lábios se tocavam, todo o Mundo parecia dissolver-se num mar de paixão e, logo a seguir, esse mar se transformou num longo manto de gelo, sufocando toda a chama interior? Porque deixámos tudo para trás para seguir um sonho a dois e, mal demos o primeiro passo, largámos as mãos e seguimos caminhos separados? Talvez tenha sido o nosso próprio orgulho a cegar-nos... nunca nos sentámos e falámos do que realmente queríamos. Julgávamos não ser preciso, era tudo tão evidente... Mas se queríamos o mesmo essencial, os detalhes, esses, não se complementavam. Nunca consegui compreender os teus porquês, as tuas razões, por nunca ter sido capaz de racionalizar o coração e fechá-lo quando bem me apetecia como tu eras. Às vezes dava-me muito jeito... Mas não consegui. Porque era demasiado forte o que sentia por ti... e quando descobri que a tua alma não era um esepelho da minha como acreditei, senti-me despedaçado. Lentamente deixei-me morrer... até que parti. Lamento imenso que nunca tenhas ouvido as minhas súplicas, que nunca tenha sido capaz de te fazer sonhar como me fazias sonhar a mim. Ou então, lamento que nunca tenhas tido a força de te agarrar ao que realmente importava e esquecer as mesquinhices da mente humana... Seja qual fosse a razão, nunca a soube, e tão pouco importa agora.
Tudo o que sei é que me fazes falta. Acredito que me terias neste instante e em qualquer outro, bastava quereres. Bastava estares aqui. Como dantes, sinto a necessidade da redescoberta, do perdão, de recuperar o que foi meu e de dar o que ainda podes reclamar como teu... mas sobretudo, sinto ainda a necessidade de compreender, de simplesmente olhar de novo nos teus doces olhos cor de avelã, nem que seja para ouvir que nada teve significado e que nunca mais olharás para mim do mesmo modo. A estocada final, se o desejares. Mas tenho ainda o secreto desejo que só a ti manifesto de poder voltar à doce memória e vivê-la. Uma e outra vez... num repetir sem fim, como sonhávamos nos nossos tempos de felicidade conturbada. Já percorri muitas ruas desde que te deixei, imagino que também o tenhas feito... Mas nunca encontrei nada como o teu regaço, nem me perdi tão fundo como no oceano do teu sentimento, nem creio que alguma vez o vá achar...
Espero que esta carta te encontre bem...
Um beijo, do eternamente teu...
Miguel."
1 Comentários:
Muitas vezes o sentimento de ódio, a fúria contra a pessoa que nos fez mal mas que ao mesmo tempo não deixamos de amar, é o escudo perfeito para nos defendermos. Chegamos a convencer-nos de um ódio mortal que acaba por ser apenas fogo de vista, mas que tanto nos ajuda a não deprimir.
Lendo este texto e cada vez mais, é minha convicção que as esperas não são inúteis quando o amor é verdadeiro. Enquanto se ama, espera-se. Por mais que queiramos recusar, por mais que digamos que nunca mais queremos ouvir aquela voz, há sempre a verdade escondida bem dentro do coração que guarda as memórias dos tempos de felicidade e que espera que voltem. Saber esperar é essencial, para um sonhador. Miguel espera e esperará por Maria. Independentemente do que ela sentir ou pensar.
A capacidade de racionalizar não significa que a pessoa ame menos. Simplesmente vivemos num mundo de diversidade, e temos formas diferentes de pensar e agir. Por mais que essa racionalização magoe um sonhador...
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