16/03/11


Oswaldo Montenegro - Metade by Sepulveda

Que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito, não me tape os ouvidos e a boca,
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe, seja ...linda ainda que tristeza.
Que a mulher que amo seja pra sempre amada, mesmo que distante,
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo, se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade, não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
porque metade de mim é plateia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade... também.