28/08/08


Nem só os actos e as palavras têm consequências. Também a inércia e as omissões têm impacto relevante.

27/08/08

Estamos todos num mesmo barco, em mar tempestuoso e devemos uns aos outros uma terrível lealdade.

(G.K.Chesterton)

25/08/08

Amor Prometido

"É no vazio dos meus olhos
que coloco o teu corpo
junto ao meu,
num abraço sem fim...
É na secura dos meus lábios
que sinto os teus
em beijos orvalhados,
numa frescura que acalma
o desejo... o desejo dos teus...
É na tua voz que ouço o sonho
aquele que em tempos
era ausente...
E que agora, amor,
é uma constante presença em mim...
É no bater do coração
que sinto tuas palavras
murmuradas em meus ouvidos
com ternura, com meiguice...
Cumprindo assim
um amor prometido..."
"Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si ..."

Eugénio de Andrade

My Funny Valentine

O solo de trompete é fantástico.

21/08/08

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho

Pablo Neruda

20/08/08

Encaixam na perfeição!!!

Mensageiro

(fotografia do meu girassol, nascido no meu "petit" jardim)


"Desperto
com o cantar
do Cuco
anunciando
a nova estação.
Deixei-me ficar
a ouvir a melodia…
Deitada,
os raios de Sol
beijavam-me os lábios,
sorri…
Que ousadia a tua
mandares o Sol
como teu mensageiro…
Liguei o rádio
a nossa musica tocava,
fui à janela...
um novo Girassol,
amarelo,
tinha nascido…
Sinais de ti…
A vida em poesia… "



Saudade

"Escorre-me a saudade dentro do peito.
Castiga-me com as marés das recordações de ti, de nós.
O horizonte tornou-se grande de mais.
O mar, não tem mais fim.
Sei que percorremos a vida de mãos dadas.

Mas, preciso de sentir o calor do teu abraço."

20

Hoje abro a porta onde guardo os meus livros e mostro-te tudo o que escrevi este anos. São estas as prosas que me fazem o rosto e pintam a vida.

São para ti.

O Silêncio

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.


E.A

A Momentary Lapse of Reason



Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas

E.A
Essa mulher, a doce melancolia
dos seus ombros, canta.
O rumor
da sua voz entra-me pelo sono,
é muito antigo.
Traz o cheiro acidulado
da minha infância chapinhada ao sol.
O corpo leve quase de vidro.

E.A
There's an unceasing wind that blows through this night
And there's dust in my eyes, that blinds my sight
And silence that speaks so much louder that words,
Of promises broken

18/08/08

Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam
O estar ali, o ser de certo modo,
o saber-se como é, onde é que está, e como,
o aguardar sem pressa, e atender-nos
da forma necessária.

Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,
Esperam as coisas que o desespero as busque.

Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.
As cortinas de rede, exactamente aquelas,
A mesa, o copo, a chávena, o relógio,
O móvel onde alguém permanece encostado
Sem volume e sem tempo,
Nós próprios, quando os olhos indignados
Nas pálpebras se encobrem.

Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,
Pesa connosco, forma um corpo inteiro.
Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe a forma,
Conhece a pedra, estende-lhe o feitio,
Sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.

Se fosse o amor dos homens
Quando se abrisse a mão já lá não estava.

António Gedeão

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade.

Acho que já aqui escrevi isto ...

Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sophia de Mello Breyner