26/05/06

Instante

Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes

Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio


Finalmente ...



... em casa.

23/05/06

Raiva

"Furbo anão de unhas sujas e roídas
Monstrengo sub-reptício, glabro homúnculo
Que empestas as brancas madrugadas
Com teu suave mau cheiro de necrose
Enquanto largas sob as portas
Teus sebentos volantes genocidas
Sai, get out, va-t-en, henaus
Tu e tua capa de matéria plástica
Tu e tuas galochas
Tu e tua gravata carcomida
E torna, abjeto, ao Trópico
Cujo nome roubaste. "


Vinicius de Moraes

19/05/06

Cada dia é uma pequena vida.








É como ...

"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida"



Pessoa, Fernando - "Livro do Desassossego"

10/05/06

Quarta - Feira

09/05/06

Terça - Feira



"Muitas vezes não procuramos razões para fazer o que fazemos, mas desculpas."

08/05/06

2ª Feira, pois claro!

Estou diabolicamente mal disposto.
Hoje não trago poesia comigo, não tenho cor, música, saudade ou qualquer outro sentimento que por instantes me torne vulnerável.
Não quero saber, não quero rir e se possível gostava de não ver rir.

Não me importa se há Sol, nem se está um lindo dia, nem sequer se já amanheceu, o que a esta hora é mais que provável. Mas nem essa probabilidade me importa.
Aliás, não tenho qualquer dúvida que se um simples piscar de olho matasse, fazia parte neste momento da lista de serial-killers mais temidos do mundo.

01/05/06

O Vento na Ilha

O vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.

Quer levar-me: escuta
como percorre o mundo
para levar-me para longe.

Esconde-me em teus braços
por esta noite apenas,
enquanto a chuva abre
contra o mar e contra a terra
a sua boca inumerável.

Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me para longe.

Com tua fronte na minha
e na minha a tua boca,
atados os nossos corpos
ao amor que nos abrasa,
deixa que o vento passe
sem que possa levar-me.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e procure
galopando na sombra,
enquanto eu, submerso
sob os teus grandes olhos,
por esta noite apenas
descansarei, meu amor.



in Os Versos do Capitão, Pablo Neruda